domingo, 31 de maio de 2015

Família volta a Piratininga um mês após sobreviver a terremoto no Nepal

‘Estadia tem ajudado a entender a dimensão da tragédia’, diz casal. 
Família planeja retornar ao país asiático e ajudar na reconstrução do país. 

Do G1 Bauru e Marília

Casal e os dois filhos estão de passagem pelo Brasil  (Foto: Arquivo pessoal/ Nádia Otake )Casal e os dois filhos estão de passagem pelo Brasil (Foto: Arquivo pessoal/ Nádia Otake )
O casal de brasileiros que estava no Nepal com os dois filhos pequenos no dia em que um terremoto atingiu 7.9 graus na escala Richter, em 25 de abril, está de passagem pelo Brasil. Eles vieram visitar familiares e amigos antes de retornarem ao Havaí, onde moram atualmente. Pouco mais de um mês depois do terremoto, eles estiveram em Piratininga (SP) e, em entrevista ao G1, contaram como está sendo o processo de retorno ao país de origem após a tragédia que viveram.
Família Otake enquanto aguardavam orientações após primeiro tremor (Foto: Nádia Otake/ Grassroots News International)Família Otake após primeiro tremor (Foto: Nádia
Otake/ Grassroots News International)
O engenheiro elétrico de 44 anos, Ricardo Otake, e a fotógrafa Nádia Carolina da Silva Otake, de 33 anos, estavam no país trabalhando em missões, atuando nas áreas de desenvolvimento comunitário e fotografia. 
"No dia seguinte do primeiro terremoto, houve outro tremor de 6.7, e nós estávamos separados de novo. Eu estava na rua fotografando e o Ricardo estava em casa com as crianças. Ficamos meio assustados de pensar que nos dois tremores mais fortes nós não estávamos juntos, então decidimos ficar juntos até o final", contou Nádia.
Nos dias que se seguiram, a família enfrentou medo, cansaço, estresse, doenças e um estado de alerta constante. "A terra ficou como uma ilha bamba, ficamos quatro dias sem dormir, tremia toda hora".
Segundo eles, a primeira reação após o terremoto foi ficar no país para ajudar. Ricardo já serviu em missões pós-tragédias no Haiti, depois do terremoto de 2010, e na Indonésia, após o Tsunami de 2004. Mas a preocupação com os filhos falou mais alto.

"Toda noite era tão sofrido que nós começamos a olhar para os nossos filhos. Eu e o Ricardo topamos todos os desafios, mas temos duas crianças que dependem completamente da gente ". O casal decidiu então manter as passagens, já marcadas para o dia 29 de abril antes mesmo da tragédia, e seguir para a Itália, onde participariam de um congresso.
Letreiros em resto de estrutra dá boas vindas aos visitantes da Durbar Square. "Welcome". (Foto: Nádia Otake/ Grassroots News International)Fotógrafa, Nádia registrou a destruição no país (Foto: Nádia Otake/ Grassroots News International)
Decisão correta
"Quando entrei no avião comecei a chorar, entrei em crise me sentindo covarde. Todo mundo querendo entrar para ajudar e eu saindo do país. Foi difícil assimilar no início. Qualquer tremida no avião, sensação de tremor no aeroporto, a gente já ficava assustado e tinha a reação de querer sair correndo, mesmo estando seguros", contou Nádia.
Estar aqui (no Brasil) está sendo uma descoberta de que realmente nós sobrevivemos a uma grande tragédia. Estou caindo na real de que a gente realmente estava correndo um sério risco de morrer"
Ricardo Otake, engenheiro
Já na Itália, a fotógrafa contou que observou os filhos brincando e pode pela primeira vez ter a sensação de que havia tomado a decisão certa ao deixar a capital do Nepal. "Eu me dei conta de que eles estavam bem. Se alguma coisa tivesse acontecido com eles eu não iria ajudar ninguém, se a sua família não está bem não adianta, você não consegue fazer nada". A família deve ficar no Brasil até meados de julho e seguirão por diversas cidades do país visitando amigos e familiares.

"Ouvir eles contarem o desespero deles de querer saber notícias nossas, tem nos feito entender um pouco mais a dimensão do que a gente passou. Estar aqui está sendo uma descoberta de que realmente nós sobrevivemos a uma grande tragédia. Estou caindo na real de que a gente realmente estava correndo um sério risco de morrer", disse Ricardo, que contou ser otimista na maioria das vezes, e que apenas uma vez  pensou que iriam morrer. “Foi quando voltei ao prédio onde estávamos hospedados para buscar alguns pertences e houve um tremor.”
Na hora da tragédia não tem diferença entre pobre e rico, entre nacionalidades, somos todos do mesmo nível, somos pequenos e acabou, a qualquer momento pode acontecer qualquer coisa com qualquer pessoa."
Nádia Otake, fotógrafa
Planos de voltar
Após retornarem ao Havaí, o casal espera ter mais tempo para refletir sobre tudo o que aconteceu, e eles já têm planos para o Nepal. "Não tem como ficarmos igual. Parte de nós ficou lá, e uma parte deles trouxemos conosco. O fato de termos visto e vivido aquilo nos dá um desejo maior de fazer alguma coisa por eles. Queremos voltar para a nossa casa agora e juntar recursos para em um futuro próximo voltar ao Nepal por algum tempo para ajudá-los a longo prazo com a reconstrução do país", falou Ricardo.

Para Nádia, o sentimento que ficou após a tragédia reflete a fragilidade humana e a necessidade de se importar com o próximo. "Eu vi o quanto somos frágeis. Fico vendo coisas que acontecem no Brasil e em outros lugares, vejo pessoas oprimindo as outras,  e penso que somos muito pequenos. Na hora da tragédia não tem diferença entre pobre e rico, entre nacionalidades, somos todos do mesmo nível, somos pequenos e acabou, a qualquer momento pode acontecer qualquer coisa com qualquer pessoa. O meu próximo pode ser qualquer pessoa que esteja do meu lado. Se a gente passa por uma tragédia juntos vamos nos unir", concluiu.
Em Piratininga, casal compartilhou a experiência de sobreviver ao terremoto  (Foto: Arquivo pessoal/ Nádia Otake)Em Piratininga, casal compartilhou a experiência de sobreviver ao terremoto (Foto: Arquivo pessoal/ Nádia Otake
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