quinta-feira, 30 de abril de 2015

Dom Helder: Aprender a cobrir de véus o acidental e efêmero

"Que eu aprenda afinal, com a paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, a cobrir de véus o acidental e efêmero, deixando em primeiro plano, apenas o Mistério da Redenção"; "Não deixe que o tempo escorra por entre os dedos abertos de tuas mãos vazias. Segura-o de qualquer maneira para que ele vire eternidade" (Helder Câmara).

Francisco rejeita ideia de «partido católico»

Agência Ecclesia
 

(Lusa)
(Lusa)

Papa encontrou-se com 5 mil pessoas no Vaticano e pediu atenção às situações mais difíceis da sociedade



Cidade do Vaticano, 30 abr 2015 (Ecclesia) - O Papa Francisco apelou hoje no Vaticano à participação dos católicos na vida política, sem se deixar tentar pela corrupção, mas rejeitou a ideia de um “partido” da Igreja.
“Às vezes ouvimos: temos de fundar um partido católico. Este não é o caminho, a Igreja é a comunidade dos cristãos que adora o Pai, segue na estrada do Filho e recebe o dom do Espírito Santo. Não é um partido político”, disse, numa audiência a cinco mil pessoas da Comunidade de Vida Cristã - Liga Missionária Estudantil da Itália.
Francisco deixou de lado o discurso que tinha preparado e optou por responder a quatro perguntas que lhe foram apresentadas, em diálogo com a assembleia, questionando a capacidade de mobilização dos que defendem um partido “só dos católicos”.
“Um católico pode fazer política? Deve! UM católico pode imiscuir-se na política? Deve!”, acrescentou.
O Papa admitiu que a política “não é fácil” e que muitos se queixam de que este é um “mundo corrupto”.
“É uma espécie de martírio, mas é um martírio quotidiano: procurar o bem comum sem se deixar corromper”, precisou.
Francisco falou depois das prisões, “uma das periferias mais feias” da sociedade, e apelou à solidariedade para com os detidos, através de “gestos” e não só de palavras.
A intervenção diferenciou a “beneficência” da “promoção”, por causa dos efeitos na consciência de cada um.
“A beneficência habitual tranquiliza a alma: ‘Hoje dei de comer, agora vou dormir descansado’. A promoção inquieta a alma: ‘Tenho de fazer mais, amanhã isto, depois de amanhã aquilo’”, explicou.
Na conclusão da audiência Francisco entregou também o texto do discurso, no qual indicava à Comunidade – da qual foi assistente eclesiástico nacional na Argentina no final dos anos 70 - três prioridades para o hoje: o compromisso na defesa da cultura da justiça e da paz, a pastoral familiar e a missionariedade.
OC

Bartolomeu I: Luta global contra o fundamentalismo

Rádio Vaticana

Bari (RV) - “O desaparecimento dos cristãos do Oriente Médio é uma tragédia humana. É uma questão histórica e de civilização ao mesmo tempo. A ameaça de seu desaparecimento é global e romperia as raízes espirituais necessárias para a inspiração de uma época atravessada por profundas mudanças.”
É o que afirma o Patriarca Ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I, na carta enviada aos participantes do encontro internacional “Cristãos no Oriente Médio: qual futuro?” em andamento na cidade italiana de Bari, promovido pela Comunidade Romana de Santo Egídio. 
No texto, lido na vigília pela paz realizada na Basílica de São Nicolau, o patriarca recordou que “os cristãos do Oriente Médio são sobretudo herdeiros do cristianismo originário modelado na paesagem do Mediterrâneo oriental que soube, com suas tradições espirituais, linguísticas e culturais,  plasmar o que o cristianismo se tornou hoje no mundo”.
A coexistência das comunidades cristãs do Oriente Médio com o mundo muçulmano
Essas comunidades cristãs carregam “os traços de uma coexistência com o mundo muçulmano que não é mais aceitável aos olhos dos funtamentalistas”. Para Bartolomeu I, o futuro dos cristãos do Oriente Médio “consiste em salvaguardar a sua ação de mediação em relação ao radicalismo de alguns muçulmanos que não reconhecem a vida dos cristãos orientais, o seu sentido profundo de liberdade e sua capacidade de resistência”.
A crise que passa o Oriente Médio pode servir como kairós ecumênico
“Uma solução política para o futuro dos cristãos do Oriente Médio”, destaca o patriarca , “pode servir-se positivamente do ecumenismo de sangue” e dos “sofrimentos redentores que formam uma nova realidade em nossa busca pela unidade dos cristãos”. “A crise que vive Oriente Médio pode servir como kairós ecumênico. Porque no sangue e nas lágrimas se constrói a consciência de um destino comum para aliviar os sofrimentos da separação”, frisou ainda Bartolomeu I.
Uma luta global contra o fundamentalismo garantirá a presença cristã
O Patriarca Bartolomeu I encerra a sua mensagem exortando a comunidade internacional a agir conforme o direito internacional para que os cristãos do Oriente Médio não se tornem somente um capítulo nos manuais de história que contam o seu desaparecimento. "Os cristãos do Oriente Médio são as pedras vivas de uma região que plasmou a sua história no pluralismo das trocas e contatos comerciais, mas também intelectuais e espirituais. Hoje, o fundamentalismo se levanta contra essa leitura. Uma luta global contra o fundamentalismo garantirá a sua presença permanente nessa região do mundo onde o nome cristão foi cunhado.” (MJ)
(from Vatican Radio)

Número de mortos no Nepal chega a 5.844

Outras 11.175 ficaram feridas no tremor que abalou no último sábado o país.

O número de mortos pelo devastador terremoto que atingiu o Nepal chegou a 5.844, anunciou o governo nepalês nesta quinta-feira.
Outras 11.175 ficaram feridas no tremor de magnitude 7,8 que abalou no último sábado o país, indicou o ministério do Interior em sua conta no Twitter.
O número ainda é provisório, já que as equipes de salvamento ainda não conseguiram chegar a diversas aldeias afetadas.
AFP

Quando você sentir paz alegria, você está perto de verdade.

Por Pe. Geovane Saraiva
30/04/2014



1.º de Maio: Movimento Mundial de Trabalhadores Cristãos exige «trabalho digno e justo»

Agência Ecclesia
 

Mensagem recorda milhões de pessoas que estão fora do mercado laboral

Lisboa, 30 abr 2015 (Ecclesia) – O Movimento Mundial de Trabalhadores Cristãos (MMTC) apelou à construção de uma “sociedade justa, fraterna e sustentável”, onde haja “trabalho digno e justo para todos”, na mensagem para o 1.º de Maio deste ano.
“A maioria das pessoas nos países pobres trabalha sem qualquer tipo de regulamentação relativa ao dia laboral, à segurança no trabalho, à proteção social e à remuneração. Trabalho digno e justo para todos, sem importar a cor da pele, o sexo, a religião ou o país de origem da pessoa”, é uma das lutas do MMTC.
Na mensagem ‘Construamos uma sociedade justa, fraterna e sustentável’, enviada à Agência ECCLESIA, o MMTC recorda “o pouco progresso alcançado” em algumas partes do mundo desde 1889, data em que foi estabelecido o 1.º de Maio como Dia dos Trabalhadores.
Neste contexto, alerta para a “importância” de continuar a comprometer-se ativamente para “melhorar a situação” porque mesmo com “muitas declarações e reivindicações”, por exemplo, nas encíclicas sociais dos Papas, em publicações da Organização Internacional do Trabalho (OIT), a “exploração” e as condições de trabalho “similares à escravatura continuam a ser frequentes”.
O artigo destaca a realidade dos jovens na Europa onde as taxas de desemprego são elevadas e para conseguirem “um lugar” têm que aceitar, “com frequência, más condições de trabalho ou ir para outro país”.
“Escândalo maior é o facto de milhões de pessoas estarem fora do mercado laboral, pois apesar de realizarem grandes esforços, não conseguem encontrar um posto de trabalho”, observa a MMTC.
Situações concretas de exploração na Ásia, África e América Latina, são outras realidades que servem de denúncia contra a “ganância e o dinheiro” que contam “muito mais” que a “natureza e a dignidade das pessoas”.
“As multinacionais não têm o mais pequeno interesse nas pessoas, olham para elas como produtores ou como consumidores”, acrescenta o Movimento Mundial de Trabalhadores Cristãos que cita o número 53 da Exortação Apostólica ‘Evangelii Gaudium’, do Papa Francisco.
“Deixemo-nos inspirar pelo Papa”, pedem os movimentos do MMTC que lutam para que “todos” sejam considerados com a sua “dignidade e a sua alma como criaturas de Deus”, “não só” como matéria disponível para “servir os ricos e poderosos”.
MMTC foi criado em 1966 e reúne mais de 70 organizações espalhadas por quatro continentes.
A Liga Operária Católica/Movimento de Trabalhadores Católicos (LOC/MTC) em Portugal é membro fundador do MMTC e, como tal, “identifica-se e associa-se” a esta mensagem.
CB/OC

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Autoridades vão reabrir escalada do Everest após terremoto e avalanche

Acesso será permitido a partir da próxima semana.
Enorme avalanche provocada por terremoto matou 18 pessoas.

Da Reuters

Tendas em acampamento no monte Everest (Foto: Facebook/Reprodução)Tendas em acampamento no monte Everest (Foto: Facebook/Reprodução)
Será liberada na próxima semana a escalada do Monte Everest, vários dias após danos causados por avalanches desencadeadas por um enorme terremoto, incluindo uma que matou 18 alpinistas no acampamento base, disseram altos funcionários nepaleses nesta quinta-feira.
"Na próxima semana, as expedições irão continuar", disse Prasad Gautam Tulsi, chefe do departamento de montanhismo no Ministério do Turismo do Nepal.
Numa reunião informal de autoridades e grupos de escalada foi decidido que "não havia risco adicional" para os alpinistas, como resultado do terremoto que matou milhares de pessoas no Nepal.
Uma equipe especializada vai corrigir dentro de alguns dias a rota através das cascatas de gelo de Khumbu, percorrida pelos alpinistas que escalam o lado sul do Everest, em território nepalês, disse Gautam à Reuters.
A enorme avalanche foi provocada pelo terremoto de 7,8 graus, no sábado, que destruiu uma parte do acampamento base do Everest, matando 18 alpinistas e os guias de montanha conhecidos como sherpa, além de ferir outras 60 pessoas.
Muitos alpinistas desistiram da escalada do Everest, o pico mais alto do mundo, com 8.850 metros. Outros, no entanto, se mantêm firmes e continuam com a meta de subir a montanha, apesar da tragédia humanitária em curso noNepal, onde mais de 5.000 pessoas morreram em consequência do terremoto.
De acordo com Gautam, de 60 a 70 alpinistas estrangeiros permanecem no acampamento base, mas ele prevê que outros alpinistas vão se concentrar no local e mais de 350 tentem chegar ao cume. Com seus guias sherpa, cerca de 700 pessoas iriam escalar o Everest, afirmou, um número normal na temporada de primavera na região.
O departamento de montanhismo está estudando estender a temporada até o início de junho para aqueles que possuem uma autorização de 90 dias para escalar o Evereste. Normalmente o período das monções nessa época do ano, com cobertura de nuvens pesadas, torna a escalada impossível
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Militares israelenses realizam parto em meio a resgates no Nepal

Forças de Israel montaram hospital para tratar feridos em terremoto.
Menino nasceu no primeiro dia de funcionamento do complexo.

Do G1, em São Paulo

Bebê nasceu nesta quarta-feira (29) em hospital de campanha montado por israelenses no Nepal após o forte terremoto que atingiu o país (Foto: Gadi Yampel / IDF)Bebê nasceu nesta quarta-feira (29) em hospital de campanha montado por israelenses no Nepal após o forte terremoto que atingiu o país (Foto: Gadi Yampel / IDF)
Um hospital de campanha montado por militares israelenses no Nepal celebrou nesta quarta-feira (29) o nascimento de um bebê em meio os esforços para tratar as pessoas que ficaram feridas após o forte terremoto que atingiu o país no fim de semana.
O hospital começou a operar na manhã de quarta, e o nascimento do bebê, um menino, aconteceu já no primeiro dia, segundo um porta-voz das Forças de Defesa de Israel (IDF), que coordenam o hospital. As informações são do jornal “Times of Israel”.
Mais de 250 médicos e integrantes de equipes de resgate são parte da delegação israelense que chegou a Katmandu, capital do Nepal, nesta semana, com o objetivo de auxiliar nos trabalhos após o terremoto de magnitude 7,8 que atingiu o país no último sábado.
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Bebê nasceu nesta quarta-feira (29) em hospital de campanha montado por israelenses no Nepal após o forte terremoto que atingiu o país (Foto: Gadi Yampel / IDF)Bebê nasceu nesta quarta-feira (29) em hospital de campanha montado por israelenses no Nepal após o forte terremoto que atingiu o país (Foto: Gadi Yampel / IDF)
Segundo o último boletim do Centro Nacional de Operações de Emergência, divulgado nesta quinta-feira (30), 5.844 morreram e mais de 11 mil ficaram feridas. O tremor também matou mais de 100 pessoas na Índia e China.
Dezenas de milhares de pessoas ficaram desabrigadas e sem acesso a comida.
O hospital montado pela delegação israelense tem 60 camas, incluindo um departamento obstétrico, e funciona em coordenação com um hospital militar local.
Bebê nasceu nesta quarta-feira (29) em hospital de campanha montado por israelenses no Nepal após o forte terremoto que atingiu o país (Foto: Gadi Yampel / IDF)Bebê nasceu nesta quarta-feira (29) em hospital de campanha montado por israelenses no Nepal após o forte terremoto que atingiu o país (Foto: Gadi Yampel / IDF
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Biografia de um homem comum

A história de meu pai resume a vida de milhões de imigrante que chegaram ao Brasil fugindo da miséria.

Disponível 24 horas por dia durante todo o ano, ele trabalhava em troca de cama e comida.
Por Luiz Ruffato*
Graças ao vereador Vinícius Machado, a principal rua do bairro São Marcos, em Cataguases, minha cidade-natal, tornou-se rua Sebastião Cândido de Souza, nome do meu pai. No próximo dia 9, em Lugo, comunidade autônoma da Galiza, na Espanha, recebo uma honraria, Escritor Galego Universal, juntando-me a nomes como o palestino Mahmoud Darwish, a mexicana Elena Poniatowska, o argentino Juan Gelman e a portuguesa Lidia Jorge. Ambos os fatos, que muito me lisonjeiam, embora separados no tempo e no espaço, talvez sejam frutos da mesma árvore.
A biografia de meu pai resume e exemplifica o desdobramento da vida de milhões de imigrantes pobres que chegaram ao Brasil fugindo da miséria em seus países de origem – assim como a da minha mãe, filha de italianos da região do Vêneto, norte da Itália. Sebastião nasceu em Guidoval, uma pequena cidade da Zona da Mata de Minas Gerais, região já decadente em 1928, que conhecera, em menos de meio século, o apogeu e o ocaso da cultura do café. Meu avô faleceu, não se sabe de quê, ainda durante a gravidez de minha avó, que por sua vez morreu pouco depois do parto. Órfão e sem parentes, meu pai foi pego para criar por uma família italiana, em Dona Eusébia.
O agregado, figura singular da estrutura social brasileira, crescia como se fosse membro da família, embora arcasse apenas com deveres, nunca usufruindo de quaisquer direitos. Disponível 24 horas por dia durante todo o ano, trabalhava em troca de cama e comida – comida servida na cozinha e cama posta num quartinho do lado de fora. Além disso, como soldava fortes laços afetivos com a casa, tornava-se de inteira confiança para desempenhar serviços os mais diversos. Assim ocorreu com meu pai: desde cedo ele labutou, inicialmente como pajem das crianças, algumas de sua idade, mais tarde puxando enxada no eito. Quando se casou, aos 22 anos, carregava nos olhos uma gratidão quase cega aos irmãos e irmãs postiços, que sempre nos trataram com educado desprezo, e as mãos vazias.
A saúde frágil – teve quase todas as doenças sociais possíveis, de paratifo a tuberculose – não o impediu de sonhar um futuro radioso para os filhos. Com minha mãe, mudou-se para Cataguases, cidade de economia baseada na indústria têxtil, onde, insubmisso à sua maneira, não conseguiu adaptar-se a horários fixos e patrões. A breves períodos como empregado assalariado na construção civil, sucediam-se longas tentativas frustradas de estabelecer-se com negócios próprios, quase sempre empreendimentos modestos e banais. Lembro-me de alguns, uma barraquinha de caldo de cana e pastel, uma quitanda de frutas e verduras, um armazém, um fabrico artesanal de salgadinhos, outro de doces, até firmar-se, por um tempo mais alargado, como pipoqueiro da praça da igreja-matriz.
Desencantado com os ensinamentos católicos, ainda no começo da década de 1970 bandeou-se para o neopentecostalismo – primeiro, entrou para a Igreja do Evangelho Quadrangular, mas logo desentendeu-se com o pastor e após zanzar de denominação em denominação filiou-se à Igreja Presbiteriana Maranata, onde chegou a diácono. Otimista, creio que arrastava consigo poucos dissabores, apesar da vida atribulada – as mortes de meu irmão, em 1978, e do meu sobrinho, em 1980; uma nunca explicada cisma com os Ruffato, com os quais mantinha uma silenciosa hostilidade; o desgosto por não lograr converter ninguém da família para sua nova confissão.
Quando paro para pensar de onde vieram os pais de meu pai, uma grande noite antiga se entremostra. No entanto, posso transformar essa lacuna em vantagem – o que não sei, invento
Em 2001, com a perda inesperada de minha mãe, sua companheira por meio século, meu pai começou a se despedir também. Ele, que havia vencido a solidão e o desamparo na infância, que driblara diversas vezes a morte, que superara percalços financeiros, que suplantara humilhações e indiferenças, sucumbiria, dois anos mais, ao desânimo de um coração cansado. Assim, anonimamente, desaparecia o homem, franzino e enfermiço, que cruzava a cidade de ponta a ponta, sempre os ouvidos propensos à escuta, sempre os braços dispostos ao aconchego, sempre os bolsos abarrotados de boas palavras – a linguagem do corpo às vezes é remédio. Hoje, meu pai é um nome na lápide do cemitério de Rodeiro – e agora, também, na placa de rua de um bairro de Cataguases.
Mas quando paro para pensar de onde vieram os pais de meu pai – ou seja, em que história me ancoro – uma grande noite antiga se entremostra. Não restaram fotografias, documentos, memórias, nada daquilo que nos fornece o estatuto de existir no mundo. No entanto, posso transformar essa lacuna em vantagem – o que não sei, invento. Meu avô chamava-se João Cândido Frutuoso, minha avó Maria de Souza Ferreira. A tradição portuguesa exige na composição dos sobrenomes o apelido materno seguido do paterno – assim, meu pai deveria ter sido batizado Sebastião Ferreira Frutuoso. Porém, no registro de nascimento está consignado Sebastião Cândido de Souza – o apelido paterno seguido do materno, que é da tradição espanhola (e galega...)
Por fim, creio que, muito mais que a mim, assumo o título de Escritor Galego Universal, concedido pela Asociación de Escritoras e Escritores Galegos em Lingua Galega (AELG), como uma espécie de homenagem póstuma a meu pai, que, embora não tenha deixado nada escrito, pautou sua vida pelo compromisso ético na defesa da dignidade humana, premissa perseguida pelos organizadores do prêmio. Meu pai, contador de histórias, meu pai, talvez galego, meu pai, profundamente.
*Luiz Ruffato é escritor e cronista o El País

Bispos devem escutar e conduzir fiéis

Facções progressistas e conservadoras da Igreja querem e têm o direito de ser escutadas.
É preciso admitir que a população católica da França é um pouco mais numerosa do que a população católica da Inglaterra e de Gales. Mas isso não pode explicar inteiramente por que uma consulta entre os leigos franceses sobre o interesse da Igreja com os problemas do matrimônio e da sexualidade tenha obtido 10 mil respostas, enquanto a consulta sobre os mesmos argumentos, organizada pelos bispos da Inglaterra e de Gales tenha alcançado até agora unicamente 500 questionários compilados on line e pouquíssimas respostas escritas. E isto também não explica por que aqueles bispos tenham ido em frente no redigir sua resposta oficial comum sem tomar em conta sequer o insignificante número de respostas que obtiveram.
Não causa estranheza que as facções desiludidas, tanto as progressistas como as conservadoras, tenham lançado suas iniciativas. Querem ser escutados e têm o direito de ser escutados. Parece que certo número de fatores tenha contribuído para este fiasco. Uma consulta semelhante, no ano passado, antes do Sínodo extraordinário sobre a Família, no outono, havia suscitado muitíssimo interesse. Não obstante o fato de que o questionário vaticano não estivesse expresso muito bem, os indivíduos e os grupos paroquiais o completaram aos milhares. Mas os bispos seguiram a letra da lei e não publicaram os resultados antes do Sínodo. Não teriam podido publicá-los logo após?
Um fator ulterior foi neste ano a soporífera melifluidade da literatura que foi feita circular na Inglaterra e em Gales. Ela convidava os católicos, antes do segundo dos dois sínodos que o papa Francisco havia convocado, a “refletir sobre uma série de pias observações, colocadas como perguntas, que pareciam apontamentos para uma aula de recuperação de uma escola elementar muito atrasada”. Um questionário um pouco mais apreciável foi enviado aos sacerdotes, mas também a resposta àquele questionário pareceu desmotivada.
Tudo isso faz pensar que algo tenha andado decididamente mal. Um motivo parcial deve ser a falta de uma liderança baseada na confiança da parte dos bispos e uma tendência a assumir riscos. Pensam que os católicos em matrimônios irregulares após o divórcio deveriam continuar sendo excluídos da comunhão? Pensam que a Igreja deveria continuar insistindo no fato de que o uso de contraceptivos é um pecado mortal? A mesma coisa se aplica àqueles que vivem em relações homossexuais?
O cardeal Vincent Nichols falou, no sínodo extraordinário, de gradualidade e da possibilidade de que os católicos divorciados e redesposados possam ser readmitidos aos sacramentos no final de um longo e empenhativo percurso penitencial. Que utilidade tem isto para um católico que vive numa destas situações? Como os bispos sabem muito bem, muitas pessoas não esperam mais nenhuma resposta e decidem por si mesmas se podem receber a comunhão. Quem pode censurá-los, se um padre numa paróquia lhes diz uma coisa e o padre da paróquia vizinha diz o contrário?
É chegado o momento em que o cardeal Nichols, enquanto presidente da Conferência episcopal, diga claramente qual a sua posição, como fez de maneira eloquente sobre problemas como a insuficiência dos amortizadores sociais e a perseguição dos cristãos. Os seus “colegas” cardeais, como na Alemanha Reinhard Max, falaram com coragem sobre temas como a comunhão para os divorciados redesposados. Uma clareza deste tipo, também na Inglaterra e em Gales, é o mínimo que se deveria esperar.
The Tablet, 23-04-2015.
*Tradução é de Benno Dischinger.

Corrupção, um mal que está entre nós

'Pecadores somos todos nós, mas o corrupto é aquele que deu um passo a mais'.

A corrupção é considerada pela ONU o crime mais dispendioso de todos.
Por Dom Fernando Arêas Rifan*
Na sua recém-terminada Assembleia Geral, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) emitiu uma nota sobre o momento nacional, na qual ressalta o problema da corrupção, usando como lema a frase do Jesus no Evangelho: "Entre vós não deve ser assim" (Mc 10,43):
"A corrupção, praga da sociedade e pecado grave que brada aos céus (cf. Papa Francisco – O Rosto da Misericórdia, n. 19), está presente tanto em órgãos públicos quanto em instituições da sociedade. Combatê-la, de modo eficaz, com a consequente punição de corrompidos e corruptores, é dever do Estado. É imperativo recuperar uma cultura que prima pelos valores da honestidade e da retidão. Só assim se restaurará a justiça e se plantará, novamente, no coração do povo, a esperança de novos tempos, calcados na ética". E adverte: "A credibilidade política, perdida por causa da corrupção e da prática interesseira com que grande parte dos políticos exerce seu mandato, não pode ser recuperada ao preço da aprovação de leis que retiram direitos dos mais vulneráveis...".
A corrupção é considerada pela ONU o crime mais dispendioso de todos, causa de muitos outros. A corrupção propicia a ocupação de cargos por pessoas indignas, as manobras políticas, a compra de votos, as licitações desonestas, o desvio, a malversação e o desperdício do dinheiro público, a impunidade, o tráfico de drogas e a sua veiculação nos presídios etc.
"Aquele que ama o ouro não estará isento de pecado; aquele que busca a corrupção será por ela cumulado. O ouro abateu a muitos... Bem-aventurado o rico que foi achado sem mácula... Quem é esse homem para que o felicitemos? Àquele que foi tentado pelo ouro e foi encontrado perfeito está reservada uma glória eterna:... ele podia fazer o mal e não o fez” (Eclo 31, 5-10). São palavras de Deus para todos nós.
Ao ler o título desse artigo, se pensa logo nos políticos. Mas há muita gente, fora da política, que se enquadra nesse título: quantos exploradores da coisa pública, quantos sugadores do Estado, que não são políticos! Aí se enquadram todos os profissionais ou amadores que se corrompem pelo dinheiro. Quem vota por dinheiro é corrupto. Quem vota apenas por emprego próprio é corrupto. Quem corre atrás dos políticos para conseguir benesses espúrias é corrupto. Precisamos voltar aos princípios cristãos básicos da honestidade e da justiça.
O papa Francisco tem insistido sobre a diferença entre pecado e corrupção, entre o pecador e o corrupto. Segundo ele, pecadores somos todos nós, mas o corrupto é aquele que deu um passo a mais: perdeu a noção do bem e do mal. Já não tem mais o senso do pecado. Os corruptos fazem de si mesmos o único bem, o único sentido; negando-se a reconhecer a Deus, o sumo Bem, fazem para si um Deus especial: são Deus eles mesmos. O papa lembrou que São Pedro foi pecador, mas não corrupto, ao passo que Judas, de pecador avarento, acabou na corrupção. “Que o Senhor nos livre de escorregar neste caminho da corrupção. Pecadores sim, corruptos, não". (Homilia, 4/6/2013).
CNBB, 29-04-2015.
*Dom Fernando Arêas Rifan é bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney (RJ).

California vai reduzir 40% das emissões

Segundo governador Jerry Brown, objetivo é atingir a meta de reduções até 2030.

Segundo governado, o plano é mais ambicioso na América do Norte.
O governo da Califórnia disse nessa quarta-feira (29) que vai reduzir em 40% suas emissões de gases de efeito estufa até 2030, o mais ambicioso plano apresentado até agora na América do Norte, inspirado na iniciativa da União Europeia. O governador democrata Jerry Brown assinou uma portaria que propõe uma marca difícil de ser cumprida. "Essa medida deve ser cumprida para favorecer esta geração e a próxima", disse o governador em comunicado.
A mudança vai contribuir para que esta região do oeste dos Estados Unidos - onde vivem cerca de 40 milhões de pessoas e que atravessa o quarto ano de uma seca severa - alcance seu objetivo de reduzir 80% das emissões nos gases de efeito estufa até 2050, de acordo com o governador.
Atualmente, o estado segue um roteiro acordado em 2006 para retornar em 2020 aos níveis de 1990. A chefe da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, em Inglês ), Christiana Figueres, aplaudiu que a "California e o governador Brown tenham entendido claramente o que é a mudança climática" com esta decisão.
O presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, disse que "os quatro anos desta seca excepcional mostraram a dura realidade que (as mudanças climáticas) representam para os cidadãos e as empresas".
Antes da conferência da ONU sobre mudança climática que será realizada este ano em Paris, os 28 membros da União Europeia concordaram em outubro passado reduzir 40% dos gases de efeito estufa até 2030. Estados Unidos, responsáveis ??por 12% das emissões globais, querem cortá-las entre 26 e 28% até 2025.
AFP

Papa é o líder mundial mais influente no Twitter

Rádio Vaticana

Cidade do Vaticano (RV) -  Um estudo da Burson-Marsteller, multinacional especializada em consultoria de comunicação, divulgado no site Twiplomacyque analisa a eficiência e presença de líderes mundiais e organizações políticas no Twitter, aponta que os tuítes do Papa são os mais compartilhados. E não somente: a presença virtual de Francisco tem provocado mudanças de paradigmas na rede social.
“O Papa nos ensina que o engajamento nas mídias sociais não tem a ver com conversação. Apesar de somente publicar mensagens, o Papa é o segundo líder mundial mais seguido com quase 20 milhões de seguidores nas suas 9 contas no Twitter”, diz a publicação.
A influência é medida com base no número de retuítes. Em média, cada mensagem do Papa na conta em espanhol recebe mais de 9 mil retuítes seguida daquela em inglês, com cerca de 7 mil.
A conta do Papa em português é seguida por mais de 1,3 milhões de pessoas. A versão em língua portuguesa é administrada pelo Pontifício Conselho das Comunicações Sociais.  
Na mensagem para o Dia das Comunicações Sociais de 2014, Francisco falou sobre a necessidade da presença da Igreja na rede. "Particularmente a internet pode oferecer maiores possibilidades de encontro e de solidariedade entre todos; e isto é uma coisa boa, é um dom de Deus".
(RB)
(from Vatican Radio)

Trágedias no Mediterrâneo: as pessoas atrás dos números

 Rádio Vaticana

Reggio Calábria (RV) - O drama dos imigrantes que tentam atravessar o Mediterrâneo para chegar à Europa atinge níveis assustadores. Além da tragédia dos mortos, a Itália precisa cuidar dos sobreviventes, muitos deles doentes, outros menores de idade.
Rafael Belincanta e Bianca Fraccalvieri estiveram no Sul da Itália aonde ouviram o relato de alguns sobreviventes e de quem trabalha na acolhida de pessoas, não de números.
O mar está calmo. Madhi Isaac porém olha para o Mediterrâneo com perplexidade. Não acredita que sobreviveu à travessia.
“Não é algo que um ser humano possa enfrentar. Estamos arriscando nossa vida. Estamos arriscando nossa vida”.
Madhi tem 40 anos. Saiu do Benin há 7 meses. Atravessou a pé e na boleia o Níger e o deserto até chegar a Trípoli, na Líbia.
A travessia
“Eu paguei duas vezes. Paguei para que não me empurrassem (para fora do barco) e paguei a outro 1,4 mil dinares (cerca de mil euros) para vir de Trípoli até aqui. Fomos colocados num barco pequeno em Trípoli. Agradecemos a Deus. Quando entramos no barco, cristãos e muçulmanos, começamos a rezar para que chegássemos. Deus ouviu nossas preces: chegamos”.
A travessia da Líbia para a Itália demorou 15 horas. Madhi foi resgatado em alto mar junto com outros 60 imigrantes. Por que ele arriscou a vida?
“Foi por causa do meu futuro que eu vim. Se eu tivesse um futuro no meu país eu não sairia de lá. Eu teria ficado no meu país para construir meu futuro. Mas no Benin não há futuro. Eu tive que encontrar uma solução fora do Benin, é por isso que eu vim”.
Outro sobrevivente, Gibrail Sowe, de 22 anos, do Gâmbia, também justifica a travessia mortal. “Não é fácil. A vida é colocada em risco. Tudo se resume à pobreza. Você não vai conseguir nada ficando lá”.
Madhi e Gibrail estão em um abrigo improvisado em um ginásio para onde os sobreviventes foram encaminhados. Eles sofreram com sarna e piolhos e não podem seguir viagem – seja lá para onde forem – até que estejam completamente curados.
Lá também está Nahom Aron, de 21 anos, da Eritreia. Depois de ser resgatado, ficou dois dias embarcado em um navio da marinha italiana. Durante a travessia, ficou a maior parte do tempo no porão do barco.
“Faltava ar, era muito quente. Vomitaram em cima de mim, dentro das minhas roupas. É muito difícil recordar isso”.
Nahom sonha em ir para a Suíça, onde teria amigos e parentes. Quando perguntei como pagou, concretamente, os atravessadores, uma vez que havia dito que não tinha dinheiro, disse que se tratava de “blood money, black market”, e se afastou.
Menores
Em outro abrigo, meninos de 10, 11 anos jogam bola no pátio. Algo trivial se estes meninos não fossem sobreviventes dos recentes naufrágios no Mediterrâneo. A creche em Reggio Calábria, no sul da Itália, virou um centro de acolhimento de emergência somente para os menores imigrantes. Eles se negaram a ser identificados pela imigração. Por serem menores, têm assim mesmo a proteção do Estado italiano até completarem 18 anos. Mas também querem evitar serem registrados na Itália, já que muitos deles pretendem chegar em outros países da União Europeia.
O clima é de tensão. Um ônibus do Ministério da Imigração italiano aguarda do lado de fora: deveria seguir viagem com ao menos quarenta menores. Destino: centros de educação sociais na Itália. Muitos não aceitam, não querem que o grupo se separe. Evitam conversar comigo, escondem o rosto diante da máquina fotográfica. São mais de 150 menores, entre meninos e meninas, que, sem documentos, são apenas números. Números de uma suposta rede internacional de tráfico de pessoas que ninguém afirmou existir, mas que se faz perceber pelos 'olheiros' entre os menores.
A missionária italiana Lina Guzzo estava lá. Para ela, a presença destes ‘olheiros’ que controlam todos os passos dos menores é um sinal claro desta rede.
“Para mim, deu a entender que eles têm domínio sobre os pequenos. Uma vez que eles estão fora, eu não sei o que vai acontecer destes pequenos. Ou eles se tornam como este aqui, opressores, ou eles acabam mortos, desaparecem”.  
Junto com Madhi, Gibrail, Mahon está o padre Bruno Mioli, 86 anos, que leva esperança aos imigrantes, concreta. Empresta o telefone celular, com consentimento da polícia, para que possam entrar em contato com parentes e amigos na Europa. O telefone é monitorado pela Interpol.
Padre Bruno levanta a voz contra Estrasburgo. Diz que a ajuda financeira à operação Triton veio tarde e diz que é preciso atacar o problema na raiz.
“Certo que do outro lado estão os atravessadores que se sentem encorajados deste qualquer um que os recruta, quem será? Esta é a contradição que existe. O problema não está resolvido. E nós estamos vivendo nessa emergência de uma emergência”. (RB/BF)

(from Vatican Radio)