sábado, 28 de fevereiro de 2015

'Sem Direito a Resgate'

Jennifer Aniston tenta imprimir o seu timing cômico, mas sem o sucesso esperado.

Cena de "Sem Direito a Resgate", do diretor Daniel Schechter.
Por Nayara Reynaud
O título original de “Sem Direito a Resgate” faz jus aos caminhos seguidos pelos seus personagens: “Life of Crime”, ou seja, uma “vida de crime”. O cabeça do esquema de evasão de divisas, uma golpista e um neonazista são alguns dos integrantes do painel contraventor do filme, junto com a dupla de sequestradores Ordell Robbie (Yasiin Bey, atual alcunha do ator e rapper conhecido antes como Mos Def) e Louis Gara (John Hawkes).
Aquele leitor cinéfilo que tem uma memória afiadíssima pode perguntar se estes não são os nomes dos personagens vividos por Samuel L. Jackson e Robert De Niro, respectivamente, em “Jackie Brown” (1997). A resposta é sim e a razão está na origem de ambas as produções.
A homenagem de Quentin Tarantino à blackexplotaition – movimento cinematográfico realizado e protagonizado pelos negros na década de 1970 – se inspirava no romance policial de Elmore Leonard (1925-2013), “Ponche de Rum” (1992), em que o autor contava uma nova história com os dois criminosos que já havia apresentado em “The Switch” (1978), justamente o livro adaptado neste longa de Daniel Schechter.
Aqui, Robbie e Gara aparecem – mais jovens do que no filme anterior – como sequestradores atrapalhados que, com a ajuda do simpatizante do nazismo e de armas, Richard (Mark Boone Junior), raptam Mickey (Jennifer Aniston), a esposa de Frank Dawson (Tim Robbins), um homem aparentemente distinto, na realidade, um corrupto que desvia dinheiro de construções para suas contas nas Bahamas.
O fato de cruzarem, no momento da captura da loira, com Marshall (Will Forte), um amigo dos Dawson que é apaixonado pela mãe da família, torna-se o menor dos problemas da dupla. Ao exigirem do marido 1 milhão de dólar pela libertação da refém, eles descobrem que Frank não está disposto a pagar o resgate, pois nunca dera muita atenção a sua mulher, tanto que já estava ao lado de sua bela amante Melanie (Isla Fisher) em pleno paraíso caribenho.
Com apenas dois filmes de baixíssimo orçamento – “Goodbye Baby” (2007) e “Supporting Characters” (2012) – no currículo, Schechter era um diretor e roteirista desconhecido, mas que teve tudo a seu favor neste projeto. Contou com grandes nomes no elenco, a boa ambientação dos anos 70, especialmente nos figurinos, e, claro, o humor negro do texto de Leonard, cujos diálogos até que são mantidos em uma adaptação aparentemente fiel. Entretanto, o jovem cineasta não consegue tirar um resultado satisfatório ao desperdiçar esse potencial em uma obra que não encontra sua identidade, ou seja, o tom certo.
De fato, desde o início, “Sem Direito a Resgate” mostra que não foi feito para arrancar gargalhadas da plateia a todo o momento. Contudo, é necessário que o espectador esteja empolgado para dar mais do que breves sorrisos durante a exibição. Por outro lado, o drama, o romance e a ação criminal são apresentados de maneira bem superficial, tal como a caracterização de alguns personagens, a exemplo do Ordell – sem falar no desenvolvimento falho dado ao seu cúmplice neonazista durante a trama. Por isso, não há um equilíbrio entre os gêneros que sustente bem a história.
O elenco faz o possível com o que tem em mãos. Jennifer Aniston tenta imprimir o seu timing cômico, mas sem o sucesso esperado, apesar de ser o grande destaque, depois de John Hawkes, que dosa bem a docilidade e a firmeza do seu Louis em uma relação com toques de Síndrome de Estocolmo com sua refém. Esta é uma das poucas coisas a se resgatar, aliás, em um filme que pode até entreter, mas que facilmente se perde na memória do público.
Reuters

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