quinta-feira, 31 de julho de 2014

Um Francisco consternado e dolorido

Padre Geovane Saraiva*

Com Veemência, alhures, já falei repetidas vezes de uma Igreja portadora da esperança, que muito fala da esperança, como sua razão de ser, de existir e seu sonho superior aos demais, mas que não proporcionava a suficiente esperança (cf. Hans Küng, Celebração do Culto Divino). Também não me esqueci de falar da nossa confiança que é enorme, sobretudo, ao refletirmos sobre a parábola do pai misericordioso (Lc 15, 11-32), porque temos um papa totalmente identificado com o pai da passagem do referido Evangelho (o filho pródigo), no seu amor infinito e acolhedor, que soube compadecer-se da miséria do filho mais novo, num gesto extraordinário de compaixão e generosidade.

O Planeta alegremente contemplado, no sentido de que os cristãos sejam estimulados e fomentados a um grande compromisso de dialogar e cuidar da criação, nas suas mais diversas realidades. O mundo precisando carinhosamente de práticas ecológicas e ambientais, para que a fé da humanidade possa se tornar cada vez mais viva, lúcida e coerente com aquilo em que acredita. Daí um Francisco consternado e profundamente sofrido diante do desastre com o avião da Malaysian Airlines no leste da Ucrânia, região marcada por fortes tensões, elevando suas orações pelas numerosas vítimas e pelos seus familiares, renovando às partes em conflito o sincero apelo pela paz e por um compromisso para que se encontrem soluções de diálogo, com a finalidade de evitar ulteriores perdas de vidas humanas inocentes.

Vem logo na minha mente a imagem da Pietá, na qual contemplamos as dores da Virgem Maria, com as mãos ensanguentadas, quando o Filho de Deus, no episódio supremo  e doloroso, depois da morte na cruz, retratado por Michelangelo, naquele tema emblemático da história da arte cristã. Por ocasião da Semana Santa, somos mais intimamente convidados a ficarmos próximos da Virgem Dolorosa, sentimento este vivido intensamente, neste momento, pelo Papa Francisco, os quais querem nos falar alto e em bom tom.  As sete dores por ela sentidas, dores imensas, profundas e inigualáveis, representam as dores da humanidade, na força de uma inefável simbologia.

Entristecidos e, ao mesmo tempo Esperançosos, contamos com um papa capaz de tomar para si e compreender as angústias da humanidade, representada pelo filho mais novo que deixou seu pai querido, numa aventura de assumir e administrar sua própria vida e seus bens. Igualmente, numa pedagogia marcada por uma enorme misericórdia, que saiba ir ao encontro do filho mais velho, que representa a mesma humanidade, com um coração empedernido, com o objetivo de falar-lhe da necessidade da misericórdia e da conversão do coração diante da dor, da miséria e do sofrimento humano, exigindo-lhe amor, compaixão e solidariedade.

O Santo Padre carrega consigo, no mais íntimo do seu interior e, não tenho nenhum medo de me enganar, o pensamento do grande homem de fé, educador e pensador, Rubem Alves, nesta assertiva: "Eu achava que religião não era para garantir o céu, depois da morte, mas para tornar esse mundo melhor, enquanto estamos vivos”.

*Padre da Arquidiocese de Fortaleza, escritor, colunista, blogueiro, membro da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza, da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE) e Vice-Presidente da Previdência Sacerdotal - Pároco de Santo Afonso - geovanesaraiva@gmail.com

                     

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