sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Odisseia de Chico - Totó

Gonzaga Mota*

Chico, homem bom e trabalhador, na roça lutava de sol a sol. Em casa, com a mulher e filhos, além de descansar e prosear, comia, com todos, farinha d’água com rapadura e bebia uma caneca de café. Voltava cabisbaixo a prosear, pensando em dias melhores para ele e sua família. 

Desejava abandonar a casa de taipa e procurar outro trabalho. O sertão não permitia que Maria, seus dois filhos, José e Ana, vivessem de forma justa. Resolveu partir para uma cidade grande. Maria e os filhos choraram. Foram consolados por ele, com a esperança de melhorarem de vida. Maria, além dos afazeres de casa, passou também a trabalhar na roça para sustentar José, com três anos e Ana, com apenas dois. 

Vida dura! Quanta saudade! Dizia Maria: com fé em São Francisco de Canindé e no Padim Ciço, Chico voltará para levar a gente. Maria pensava com o coração: a pior dor é a da saudade , longe da pessoa amada. A espera foi grande com final triste. Chico morreu trabalhando na construção de um prédio. Morreu com muita dignidade, porém vítima da injustiça dos homens. Lembrando os versos do poeta Patativa do Assaré e a voz sertaneja de Luiz Gonzaga, foi uma “Triste Partida”.  Pobre Chico, deixou a família desamparada e sem nenhuma perspectiva. 

A vida quase sempre é muito dolorosa. Maria e seus dois filhos fizeram as trouxas e se tornaram pedintes noutra cidade grande. Passaram fome, humilhação, por perseguição e poucos externavam o sentimento de solidariedade. Vida sem vida, cruel, desigual e sem esperança. Como disse o grande poeta nordestino Manuel Bandeira:  - Ah, como dói viver quando falta a esperança!

professor e escritor

*Integra a  Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza, poeta, escritor, professor da UFC e ex-governador do Ceará

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