segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Crise política não vai alterar dinâmica econômica entre Brasil e EUA, diz especialista

Por Mariana Branco

Brasília - A crise política entre o Brasil e os Estados Unidos, que culminou na decisão da presidenta Dilma Rousseff de desmarcar a visita de Estado que faria àquele país em outubro, não trará alteração significativa à dinâmica econômica entre os países, conforme avaliação do professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) Antônio Jorge. Segundo ele, Brasília e Washington têm uma relação tensa, mas consolidada no aspecto comercial. "Temos tensão comercial permanente com os EUA, assim como temos com a Argentina´, diz.

O especialista também não acredita em sanções aos norte-americanos em concorrências, como no leilão do Campo de Libra, o primeiro do pré-sal, marcado para 21 de outubro. ´O nosso interesse é que haja a maior competição possível. Nessa questão do petróleo, em que o afã nacionalista fala mais alto, as empresas mais competitivas são as americanas. Temos que pensar que esse é um mundo em que empresas estão tentando invadir o "site" de governos e de outras empresas permanentemente. Elas [empresas norte-americanas] não precisariam recorrer ao governo [dos EUA] para isso [espionagem com fins econômicos]´, avalia, referindo-se à suspeita de que a NSA (Agência Nacional de Segurança, na sigla em inglês) teria espionado dados da estatal brasileira Petrobras com o objetivo de obter vantagem econômica para empresas americanas.

O especialista acredita ainda que o tema de um possível acordo comercial com os norte-americanos já dispunha de pouco espaço para avançar antes de o escândalo da espionagem vir à tona. Antônio Jorge destaca que, apesar de terem uma economia mais aberta do que a brasileira, os EUA não abrem mão de barreiras para produtos específicos como o etanol e o suco de laranja, cercados por um forte "lobby" interno. Além disso, em função do Custo Brasil, a indústria local teria dificuldade em concorrer com produtos norte-americanos como os da linha branca em termos de preço.

´Parte do setor privado [brasileiro] não quer um acordo de livre comércio, porque estabelece concorrências desfavoráveis. Ao mesmo tempo, eles brigam para que o governo brasileiro abra novos mercados e os Estados Unidos são um deles. Foi uma opção brasileira deixar que a Alca [Área de Livre Comércio das Américas] não fosse adiante. Nos termos em que estava colocada, ela não interessava. Foi melhor abrir mercados no plano multilateral, por meio da atuação na OMC [Organização Mundial do Comércio]´, comenta o professor.

Em oposição à opinião do especialista, o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, acredita que a crise política trará, sim, impactos econômicos. ´Pensando como empresário, daria todo o apoio para que houvesse um acordo [comercial]. Não seria completamente amplo, mas um ponto de partida. É um mercado fundamental. O setor privado organiza missões, mas nunca houve missão comercial governamental aos EUA.´

Segundo Castro, a visita da presidenta Dilma não era específica para acordos comerciais, mas poderia gerar uma semente e, agora, não há o mesmo clima. ´Nesse primeiro momento, houve uma decisão ideológica. Estava havendo aproximação e passou a haver distanciamento. Pode ser que volte-se a pensar ideologicamente.´

A Agência Brasil entrou em contato com a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). A CNI, que há duas semanas enviou uma missão comercial a Washington e contava com a manutenção da visita da presidenta Dilma Rousseff, informou por meio de sua assessoria de imprensa que não se pronunciará sobre o adiamento. O pedido de entrevista à Fiesp não foi respondido até o fechamento desta matéria.
Agência Brasil

Cartas, bilhetes e recados

Vamos lá! Quantas vezes você já não pensou em escrever para alguém uns desaforos? Ou uma carta com tudo o que não teve coragem de dizer pessoalmente? Ou mesmo deixar um bilhetinho grudado na porta, da rua ou da geladeira, com algum galanteio?
Não é exatamente, mas também não deixam de ser cartas esses artigos que escrevo, prezado leitor/a, com coisas que quero dizer mas como não sei exatamente onde encontrar todos vocês, expresso em textos nos quais acabo incluindo um monte de assuntos que falam da vida, do país, de mim e do que passamos, e que imagino você também. Não escrevo "De" ou "Para", mas sou a remetente e você nem precisa decorar o CEP para me dizer.

Aliás, elas, as cartas, perderam demais para o tal e-mail, correio eletrônico, SMS, torpedos, recados e outras formas de contato via redes sociais, diretas ou em 140 caracteres, alguns possibilitando até a própria voz. Mas não é igual à carta, que impõe uma distância maior a ser percorrida, uma certa ansiedade de ida e talvez, de volta, como resposta, ou ela mesma, amarfanhada e carimbada, quando não encontra o caminho indicado, o endereçado. Perdemos principalmente a oportunidade de conhecer melhor alguém pela letra; admirando-a ou tentando decifrá-la. Tinha também as cartas feitas na máquina de escrever, "aparelhinho" de batucar as pretinhas, e que muita gente hoje nem conhece mais. Essas também tinham personalidade especial: o papel usado, as teclas quebradas ou que imprimiam diferente, com os erros quase impossíveis de ser apagados com os "branquinhos" , aquela gosminha em pincel que pincelávamos e com a qual tentávamos encobrir os erros, escrever em cima deles. As cartas trazem em si um certo romantismo,com ou sem envelope.

Mas é mais uma coisa que mudou e muito. Às vezes fico vendo os carteiros e penso que eles já foram mais felizes quando imaginavam transportar a tiracolo em suas sacolas muitas e lindas cartas de amor, ou de despedidas, muito além do pacote de contas a pagar ou cobranças das não pagas que entregam hoje, quando até convites já não são mais aqueles que espetávamos nos murais de cortiça. Na boa, nem cartões postais tenho visto muitos, ou melhor, cartões postais, inclusive com publicidade agregada, agora até estão em displays em vários lugares, em profusão. Mas quem os usa? Eu olho e pego só os bonitos que viram quadrinhos que ficam por perto até que eu enjoe deles e os troque. Mas aqueles, típicos, tipo Torre Eiffel, Estátua da Liberdade nem tenho visto - muito menos recebido.

Em tempos de Instagram acompanhamos as viagens quase que in loco - agora até com filminhos, e de gente que nem conhecemos pessoalmente. Instantâneos, como tudo agora parece precisar ser. Instantâneo. Só que volátil, constantemente substituído. Ninguém guarda, como fazemos com cartas, ou determinados recados ou bilhetes que, se de amor forem, então, ah, esses ganham até caixinhas, lacinhos, aromas. Lágrimas secas.

Tudo isso digo porque também andei detectando uma nova forma de expressão por aí, inclusive de jornalistas, e que têm feito algum sucesso porque reproduzem exatamente isso: alô você aí, senhor ou senhora importante, eu existo e estou escrevendo para você. Certo que é uma carta aberta, mas a forma é essa, prezados, estimados destinatários. Cartas abertas no caminho.

Nas últimas semanas encontrei muitas cartas para a Dilma e para o Obama. A primeira com observações para a senhora presidente, tipo não tenta me enganar que eu não gosto, ou contendo alguns detalhes gerais sempre esquecidos no noticiário comum, como as velhas amizades dela, as péssimas escolhas de sua equipe, lembrando-a de fatos e pessoas que certamente ela adoraria poder apagar das nossas memórias. Para o Obama, o que vi foram mensagens até mais bem humoradas, sobre quais seriam as grandes descobertas feitas pela espionagem da agência americana em cima da vida e feitos tanto da nossa presidente como daquele outro que continua como sombra, fazendo com que sejamos o único país do mundo governado por um sistema de governo de dois presidentes, como parece ser, dia e noite. Vi também muita gente brincando de consolá-lo pela ausência e enorme vazio que sentirá, dormindo na pia, com o cancelamento da visita oficial de outubro.

Mas tem outras cartas, a Magna inclusive, a Carta. E esta é uma que vai estar no topo da onda por esses dias quando comemoraremos os 25 anos da Constituinte promulgada em 1988. Uma carta importante, detalhada até demais em alguns pontos, mas que vem sendo rasurada, cortada, rasgada, pisada em alguns momentos sem que muitas vezes a gente se dê conta.

Será que precisaremos reescrevê-la qualquer dia desses?

Marli Gonçalves é atual Diretora da Brickmann&Associados Comunicação, B&A, tem 30 anos de atuação na profissão. Na área de consultoria e comunicação empresarial foi, de 1994 a 1996, gerente de imprensa da multinacional AAB, Hill and Knowlton do Brasil (Grupo Standart. Ogilvy & Mather). Foi do Jornal da Tarde, da Rádio Eldorado, com passagem pela Veja SP. Participou ainda, nos 80, de várias publicações, entre elas, Singular & Plural, Revista Especial, Gallery Around ( com Antonio Bivar), Novidades Fotóptica, A-Z, Vogue. Na área política, entre outros, foi assessora de Almino Affonso, quando vice-governador de São Paulo, e trabalhou em campanhas para Fernando Gabeira e Roberto Tripoli. Na B&A, tem cuidado de Gerenciamento de Crises, ao lado de Carlos Brickmann. 

Cinema em Transe explora novas estéticas

Em outubro, sessões serão gratuitas e realizadas às terças-feiras no Cine Sesc Palladium.

'Santiago', João Moreira Salles: imagens resgatadas.
Por Ana Paula Rachid

Em outubro, a programação do projeto Cinema em Transe exibe quatro documentários que refletem sobre o próprio fazer cinematográfico, tendo como pano de fundo as questões inerentes à realidade brasileira. As sessões são realizadas às terças-feiras, sempre às 20h, no Cine Sesc Palladium, com entrada gratuita, retirada de senha 1h antes da exibição e espaço sujeito a lotação. Excepcionalmente, neste mês não haverá sessão em 15/10 

No filme Tudo é Brasil, Sganzerla concentra-se na passagem de Orson Welles pelo Brasil para realizar o longa-metragem It´s All True, retratando também o cotidiano dos negros no país. Em Rocha que Voa, Eryk Rocha tenta compreender a trajetória de seu pai, Glauber Rocha, ao mesmo tempo em que tece um ensaio poético-político sobre o papel dos intelectuais latinos na construção de um discurso antiburguês e anticolonização. 

Já em Santiago, o cineasta João Moreira Salles recupera suas próprias imagens produzidas anos antes e reflete sobre sua relação com o mordomo da casa em que crescera, bem como sobre o tempo que separa a filmagem (1992) da edição e corte final do filme (2006). Também recuperando filmagens do passado, Eduardo Coutinho traz à tona as imagens interrompidas pelo Golpe Militar de 1964, e retoma, em 1981, o projeto interrompido com o intuito de recriar as experiências dos personagens envolvidos no filme.

O objetivo do Cinema em Transe é apresentar sessões gratuitas de filmes que não estão inseridos no circuito comercial e que exploram novas estéticas cinematográficas. O projeto privilegia obras que correspondem à nossa própria cultura, busca formar público e difundir a produção brasileira, ainda hoje deixada em segundo plano na maioria das salas de exibição comercial.

PROGRAMAÇÃO

1º/10

Tudo é Brasil, de Rogério Sganzerla (RJ, 1998) 82 min, Classificação: livre 

‘Tudo é Brasil’ traz cenas inéditas e imagens dos bastidores do filme americano It´s All True, dirigido e rodado no Brasil por Orson Welles na década de 40. Com depoimentos do próprio Welles e de tantos outros colaboradores brasileiros e americanos, o longa-metragem traz a tona a história secreta do filme It´s All True, e revela o encanto do cineasta ao conhecer a cultura e a criatividade do povo brasileiro.

08/10

‘Rocha que voa’, de Eryk Rocha (RJ, 2002) 94 min, Classificação: livre 

Filho de Glauber Rocha, o polêmico cineasta de tantas obras-primas, Eryk Rocha realiza este documentário, um ensaio sobre o papel dos intelectuais na América Latina baseado nos anos em que seu pai ficou exilado em Cuba, de 1971 a 1972. O filme ambiciona recuperar a ligação entre os principais movimentos cinematográficos latino-americanos dos anos 60/70, o Cinema Novo, no Brasil, e o Cine Revolucionário, de Cuba. Por meio de depoimentos de cineastas e do povo cubano entrevistado em Havana, revivemos o impacto provocado pelo cineasta e seus filmes.

22/10

‘Cabra marcado para morrer’, de Eduardo Coutinho (RJ, 1964-1984) I 119 min. Classificação: 12 anos

No início da década de 1960, um líder camponês, João Pedro Teixeira, é assassinado por ordem dos latifundiários do Nordeste. As filmagens de sua vida, interpretada pelos próprios camponeses, foram interrompidas pelo golpe militar de 1964. Dezessete anos depois, o diretor retoma o projeto e procura a viúva Elizabeth Teixeira e seus dez filhos, dispersados pela onda de repressão que seguiu ao episódio do assassinato. O tema principal do filme passa a ser a trajetória de cada um dos personagens que, por meio de lembranças e imagens do passado, evocam o drama de uma família de camponeses durante os longos anos do regime militar. Para essa produção foram utilizados áudios, depoimentos, poemas, desenhos e trechos de filmes de Glauber.

29/10

‘Santiago’, de João Moreira Salles (RJ, 2006) 79 min, Classificação: livre

Em 1992 o diretor João Moreira Salles planejou o documentário Santiago, baseado na vida do mordomo da casa de sua família. Devido à sua incapacidade em editar as cenas filmadas, o longa-metragem nunca foi concluído. Em 2005 o diretor voltou a trabalhar com as cenas gravadas, encontrando outro foco no material rodado. Ao refletir sobre o tempo que separa a filmagem de 1992 e a edição de 2005/2006, o narrador, aos poucos, se aproxima do segredo do filme. Santiago é esse lento processo de desvelamento (da identidade, da memória e da própria natureza do documentário).

O inimigo cujo nome não ousamos dizer

È proibido dizer que o mais perigoso inimigo da humanidade reside do outro lado do Atlântico


Síria: quem é o verdadeiro responsável pelo ataque químico?
Por John Pilger*
Na minha parede está a primeira página do Daily Express de 5 de Setembro de 1945 e as palavras: "Escrevo isto como uma advertência ao mundo". Assim começava a reportagem de Wilfred Burchett, de Hiroshima. Foi o furo do século. Devido à sua jornada perigosa e solitária que desafiou as autoridades de ocupação estado-unidenses, Burchett foi posto no pelourinho, inclusive pelos seus colegas incorporados [a atuarem junto às forças de ocupação dos EUA]. Ele advertiu que um ato de assassínio em massa premeditado numa escala gigantesca lançara uma nova era de terror.
Agora, quase diariamente confirma-se o que ele disse. A criminalidade intrínseca do bombardeamento atômico fica patente através dos US National Archives e das décadas subsequentes de militarismo camuflado como democracia. O psicodrama da Síria exemplifica isto. Ainda mais uma vez somos mantidos reféns da perspectiva de um terrorismo cuja natureza e história é negada até pela maior parte dos críticos liberais. A grande coisa proibida de mencionar é que o mais perigoso inimigo da humanidade reside do outro lado do Atlântico.
A farsa de John Kerry e as piruetas de Barack Obama são temporárias. O acordo de paz da Rússia sobre armas químicas será, no devido tempo, tratado com o desprezo que todos os militares reservam à diplomacia. Com a Al-Qaida agora entre os seus aliados, e os golpistas armados pelos EUA no Cairo, os americanos pretendem esmagar os últimos estados independentes no Médio Oriente. A Síria primeiro, a seguir o Irã. "Esta operação [na Síria]", disse em Junho o antigo ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Roland Dumas, "remete-nos a tempos distantes. Ela foi preparada, pré-concebida e planeada".
Arautos do mal
Quando o público está "psicologicamente marcado", como descreveu o repórter do Channel 4 Jonathan Rugman a hostilidade esmagadora do povo britânico a um ataque à Síria, reforçar o é proibido mencionar torna-se urgente. Seja Bashar al-Assada ou os "rebeldes" que utilizaram gás nos subúrbios de Damasco, são os Estados Unidos e não a Síria os mais prolíficos utilizadores do mundo destas armas terríveis. Em 1970, o Senado relatou: "Os EUA despejaram sobre o Vietname uma quantidade de produtos químicos tóxicos (dioxina) equivalente a seis libras [2,72 kg] por cada habitante".
Isto foi a Operação Inferno (Operation Hades), posteriormente rebaptizada com o nome mais amistoso de Operation Ranch Hand: a fonte do que médicos vietnamitas chamam um "ciclo de catástrofe fetal". Vi gerações de crianças com suas habituais deformidades monstruosas. John Kerry, com o seu próprio registo de guerra ensopado em sangue, as recordará. Vi-as também no Iraque, onde os EUA utilizaram urânio empobrecido (depleted uranium) e fósforo branco, tal como fizeram os israelenses em Gaza, despejando-o sobre escolas e hospitais das Nações Unidas. Para eles, nenhuma "linha vermelha" de Obama. Para eles, nenhum psicodrama decisivo.
O debate repetitivo sobre se "nós" deveríamos "actuar" contra ditadores seleccionados (isto é, apoiar os EUA e seus acólitos em ainda outra orgia de matança aérea) faz parte da nossa lavagem cerebral. Richard Falk, professor emérito de direito internacional e Relator Especial das Nações Unidas sobre a Palestina, descreve isto como "um écran legal/moral farisaico, unilateral, com imagens positivas de valores ocidentais e a inocência descrita como ameaçada, validando uma campanha de violência política irrestrita". Isto "é tão amplamente aceite de modo a ser virtualmente incontestável".
Isto é a grande mentira: o produtos de "realistas liberais" na política, na academia e nos media anglo-americanos os quais nomeiam-se a si próprios como os administradores da crise do mundo, ao invés de causadores de uma crise. Despindo a humanidade do estudo de nações e congelando-a com jargão que serve desígnios do poder ocidental, eles marcam estados "falhados", "patifes" ("rogue") ou "maléficos" ("evil") para "intervenção humanitária".
Obama, o fraco
Um ataque à Síria ou ao Irão ou a qualquer outro "demónio" dos EUA inspirar-se-ia numa variante da moda, a "Responsabilidade de proteger" ("Responsability to Protect", ou R2P), cujo fanático pregador público é o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros australiano Gareth Evans, co-presidente de um "Global Centre" com sede em Nova York. Evans e seus lobbistas generosamente financiados desempenham um papel vital e insistir com a "comunidade internacional" para atacar países onde "o Conselho de Segurança rejeita uma proposta ou deixa de tratar num período de tempo razoável".
Evans tem antecedente. Ele aparece no meu filme de 1994 Morte de uma nação (Death of a Nation) a elevar sua taça de champanhe ao seu homólogo indonésio quando voavam sobre Timor Leste num avião australiano, tendo acabado de assinar um tratado que pirateava o petróleo e o gás daquele país abatido onde o tirano da Indonésia, Suharto, matou ou esfaimou um terço da população.
Sob o "fraco" Obama, o militarismo ascendeu talvez como nunca antes. Sem um único tanque sobre o relvado da Casa Branca, verificou-se um golpe militar em Washington. Em 2008, enquanto seus devotos liberais secavam os olhos, Obama aceitou todo o Pentágono do seu antecessor, George Bush: suas guerras e crimes de guerra.
Quando a constituição é substituída por um emergente estado policial, aqueles que destruíram o Iraque com pavor e choque, e acumularam montanhas de escombros no Afeganistão e reduziram a Líbia a um pesadelo hobbesiano, estão a dominar toda a administração estado-unidense. Por trás da sua fachada decorada, mais antigos soldados dos EUA estão a matar-se a si próprios do que a morrer sobre campos de batalha. No ano passado, 6.500 veteranos acabaram com as suas próprias vidas. Arriem mais bandeiras.
Fascismo liberal
O historiador Norman Pollack chama a isto "fascismo liberal". "Para os que marcham a passo de ganso", escreveu ele, "substitui a aparentemente mais inócua militarização da cultura total. E para o líder bombástico, temos o reformador falhado, alegremente a trabalhar no planeamento e execução do assassínio, sorrindo o tempo todo". Toda terça-feira, o "humanitário" supervisiona pessoalmente uma rede mundial de terror com drones que corrompem pessoas, aqueles que as resgatam e as choram. Nas zonas de conforto do Ocidente, o primeiro líder negro da terra da escravidão ainda se sente bem, como se a sua própria existência representasse um avanço social, pouco importando o seu rastro de sangue. Esta reverência a um símbolo quase destruiu o movimento anti-guerra nos EUA: a façanha singular de Obama.
Na Grã-Bretanha, os diversionismos da falsificação de imagem e da política de identidade não tiveram êxito completo. Uma comoção já principiou, embora a consciência do povo devesse acelerar-se. Os juízes de Nuremberg foram sucintos: "Cidadãos individuais têm o dever de violar leis internas para impedir crimes contra a paz e a humanidade". As pessoas comuns da Síria, e de incontáveis outros países, e o nosso auto-respeito, não merecem nada menos neste momento.
Ataque químico na Síria (cenas chocantes) - Veja o vídeo:
* A carreira do australiano John Pilger como repórter começou em 1958 e, ao longo dos anos, tornou-se famoso pelos livros e documentários que escreveu ou produziu.

Papa institui «Conselho de Cardeais»

Agência Ecclesia

Organismo vai ajudar o Papa no governo da Igreja e na reforma da Cúria Romana

Cidade do Vaticano, 30 set 2013 (Ecclesia) - O Vaticano publicou hoje o decreto com o qual Francisco institui oficialmente um "Conselho de Cardeais" para ajudarem o Papa no "governo da Igreja universal" e para estudar um "projeto" de reforma da Cúria Romana.
O atual Papa tinha anunciado a constituição de um grupo de oito cardeais, com os mesmos objetivos, a 13 de abril.
"Agora, após amadurecida reflexão, julgo ser oportuno que esse grupo, através do presente quirógrafo, seja instituído como um ‘Conselho de Cardeais', com a missão de me ajudarem no governo da Igreja universal e de estudarem um projeto de revisão da Constituição Apostólica Pastor bonus sobre a Cúria Romana", escreve.
O documento assinado por Francisco precisa que a criação deste conselho é responde às "sugestões" deixadas pelos cardeais que participaram nas Congregações Gerais antes da eleição do sucessor de Bento XVI, em março.
Nesses encontros, revela o Papa, defendeu-se a "conveniência de instituir um grupo restrito de membros do episcopado, oriundos de várias partes do mundo, que o Santo Padre pudesse consultar", individualmente ou em grupo.
"Uma vez eleito para a Sede romana, tive ocasião de refletir mais vezes sobre este tema, concluindo que tal iniciativa seria uma ajuda significativa", acrescenta.
O grupo, coordenado por Oscar Andrés Rodríguez Maradiaga, arcebispo de Tegucigalpa, Honduras, e presidente da Cáritas Internacional, inclui Giuseppe Bertello, presidente do Governatorato do Estado da Cidade do Vaticano, Francisco Javier Errázuriz Ossa, arcebispo emérito de Santiago do Chile, e Oswald Gracias, arcebispo de Bombaím, na Índia.
Reinhard Marx, arcebispo de Munique e Freising (Alemanha), Laurent Monsengwo Pasinya, arcebispo de Kinshasa, na República Democrática do Congo, Sean Patrick O'Malley, arcebispo de Boston, nos EUA, e George Pell arcebispo de Sydney, na Austrália, completam o elenco do conselho que tem como secretário D. Marcello Semeraro, bispo da diocese italiana de Albano.
Segundo o Papa, este conselho pode ser modificado, quanto à sua composição, e quer manifestar a "comunhão episcopal e o auxílio ao ministério petrino que o episcopado espalhado pelo mundo pode oferecer".
Francisco vai reunir-se pela primeira vez entre terça e quinta-feira com o novo Conselho de Cardeais.
A Constituição Apostólica 'Pastor bonus' (O bom pastor) foi publicada pelo Papa João Paulo II (1920-2005) a 28 de junho de 1988.
A estrutura dos principais departamentos da Cúria Romana (dicastérios), as reuniões de cardeais e as visitas que os bispos de cada país fazem regularmente ao Vaticano para se encontrarem com o Papa e discutirem com ele a situação das suas dioceses constituem alguns dos assuntos tratados no primeiro capítulo do documento.
O texto define a identidade e funções da Secretaria de Estado do Vaticano, congregações, tribunais, e conselhos pontifícios, além das instituições ligadas à Santa Sé e outros organismos da Cúria.
O porta-voz do Vaticano adiantou hoje que os cardeais já estiveram em contacto e recolheram um conjunto "muito amplo" de propostas e observações.
O padre Federico Lombardi disse aos jornalistas que este conselho consultivo pediu sugestões a conferências episcopais, religiosos e outras pessoas, para além dos responsáveis da própria Cúria Romana.

Fonte: www.agencia.ecclesia.pt

Marlene, por exemplo

Bela, tenaz, encantadora, ela é capaz de gafes de matar de invejar qualquer comediante.

Marlene, 80 anos, beleza e bom humor que sobrevivem ao tempo impiedoso.
Por Carlos Eduardo Leão*

Marlene é uma mulher excepcional. Dessas que marcam indelevelmente sua trajetória terrena tanto no coração dos amigos, parentes, admiradores como no dos poucos desafetos que, pela simpatia que irradia de sua beleza clássica e da simplicidade que emana de seus gestos e pensamentos, rendem-se ao reconhecimento de que se trata realmente de alguém diferente.

Marlene tem 80 anos muito bem vividos. Traz no semblante traços marcantes de uma beleza que sobrevive bravamente ao tempo impiedoso. Na juventude era frequentemente confundida com Iêda Vargas, talvez uma das mais belas mulheres nascidas no Brasil desde 1500, cujos atributos físicos  foram reconhecidos pelo mundo que, encantado, conferiu-lhe o título de Miss Universo nos idos de 1963.

Marlene personifica a extroversão. Não há a mínima possibilidade de deixar de cumprimentar desconhecidos onde quer que esteja. Solícita, prestativa e de bem com a vida, Marlene está sempre preparada para uma palavra de conforto e esperança, o que faz dela uma companhia sempre querida e disputada pelos filhos, netos e bisnetos que não escondem um discreto ciúme em dividi-la com a legião de amigos que a querem igualmente por perto e pelos mesmos motivos.

Marlene é de um otimismo crônico. Daquelas que, se por um descuido, despencasse do décimo andar de um edifício, ao passar pelo quinto andar exclamaria: até aqui tudo bem! Dona de um humor permanente e de uma incrível facilidade de fazer amigos, vez ou outra extrapola e comete gafes que a caracterizam como uma pessoa afeita a foras antológicos.

Um dos mais espetaculares foi quando, numa elegante loja, antigamente chamada de boutique, ela notou a entrada de um homem que lhe parecia suspeito num primeiro momento. Não se fez de rogada. Retirou rapidamente seus anéis e aliança colocando-os na boca. Insistiu que sua filha, que lhe acompanhava nessa aventura, fizesse o mesmo. Aproximou-se da dona da loja, chamou-a num canto e, discretamente, abriu a boca mostrando a sua técnica de proteção improvisada. Com dificuldade, balbuciou: "Este homem parece suspeito, cuidado". Ao que a dona da loja respondeu. "Fique tranquila dona Marlene. Pode tirar seus anéis da boca. Ele é meu marido".

Outro antológico de sua vastíssima coleção de foras foi no velório de dona Maria, uma elegante senhora da sociedade local que partiu aos 95 anos. Na extensa fila de cumprimentos, Marlene esperava a sua vez de abraçar a amiga, filha da defunta. Chegada a sua vez, abraçou Janete com tamanho carinho e sentenciou: " Que pena! Estou arrasada. Dona Maria, tão nova!!!". Não houve reprimendas nem de Janete nem da família enlutada pois, em se tratando de Marlene, esse tipo de disparate é sempre esperado.

Sentada com o marido, numa elegante festa de casamento, Marlene se deliciava com um jovem casal que, na pista, dançava efusivamente. Nessa noite o nonsense de Marlene atingiu a apoteose. No intervalo da música, o casal encaminhou-se em direção à mesa vizinha. Marlene não se conteve. Levantou-se e dirigiu-se à bela jovem: "Vim lhe dar um abraço de parabéns. Você dança divinamente bem". Olhou para o jovem mancebo e continuou: "Você também, meu filho. Um verdadeiro pé de mesa!" – para desespero do marido que jamais se conformou com o equívoco no tipo do pé: "de valsa" pelo "de mesa".

Falando em marido, o seu, embora resignado, não aceitava muito bem os foras. Achava que ela era sempre candidata a desacatos e agressões físicas o que, até agora, não aconteceu, muito embora essa nefasta possibilidade exista. Particularmente, não acredito dada à naturalidade com que suas gafes espetaculares são cometidas.

Afinal, está é a Marlene que, certa vez, acompanhava seu pai, internado num hospital. O apartamento ao lado era ocupado por um ancião em estado terminal que Marlene fazia questão de visitar diariamente. Resolvi acompanhá-la numa dessas visitas. Em meio aos familiares, Marlene aproximou-se e disse, acariciando os pés cobertos do paciente: "Isso, sr. Manoel. É assim que eu gosto de te ver, corado e calminho". O homem estava morto e tinha acabado de ser maquiado para o velório. Esta é Marlene, minha adorável mãe.
*Carlos Eduardo Leão é médico e cronista.

A adolescência acaba aos 25 anos?

Psicólogos britânicos especializados no tratamento de jovens estão sendo orientados a considerar que hoje a adolescência vai até os 25 anos.

Jovem adulto joga videogame: como saberemos quando realmente atingimos a idade adulta?
Por Lucy Wallis


"Estamos nos tornando mais conscientes e valorizando o desenvolvimento que vai além (de 18 anos) e eu acho que é uma boa iniciativa", diz a psicóloga infantil Laverne Antrobus, da Clínica Tavistock de Londres. "A ideia de que de repente aos 18 anos você é adulto não parece real," diz Antrobus.

 "Na minha experiência com jovens eu percebi que mesmo depois dos 18 anos eles ainda precisam de muito apoio e ajuda." Psicólogos infantis estão trabalhando com uma nova faixa etária, que vai de 0 a 25 anos, e não mais de 0 a 18 anos. 

Desenvolvimento contínuo 

A ideia por trás da nova orientação é ajudar a garantir que, ao completar 18 anos, os jovens possam usufruir do mesmo amparo e tratamento que vinham tendo dos sistemas públicos de saúde e educação. 

A mudança acompanha os desenvolvimentos em relação à nossa compreensão sobre maturidade emocional, desenvolvimento hormonal e atividades específicas do cérebro. 

"A neurociência tem feito esses enormes avanços que mostram que o desenvolvimento não para em uma determinada idade, e que há evidência de evolução do cérebro além dos vinte e poucos anos e que, na verdade, essa pausa no desenvolvimento acontece muito mais tarde do que pensávamos", diz Antrobus. 

Existem três fases da adolescência — a adolescência inicial, que vai dos 12 ao14 anos; a adolescência intermediária, dos 15 ao17 anos; e adolescência final, dos 18 anos para cima. 

A neurociência tem mostrado que o desenvolvimento cognitivo de um jovem segue adiante neste último estágio, e que sua maturidade emocional, autoimagem e julgamento serão afetados até o córtex pré-frontal do cérebro se desenvolver totalmente. 

Juntamente com o desenvolvimento do cérebro, a atividade hormonal também continua até os vinte e poucos anos, diz Antrobus. "Eu encontro crianças e jovens entre 16 e 18 anos com uma atividade hormonal tão grande que é impossível imaginar que esta vá se estabelecer no momento em que completarem 18 anos", diz Antrobus. 

Ela diz que alguns adolescentes podem querer ficar mais tempo com suas famílias porque eles precisam de mais apoio durante esses anos de formação, e que é importante que os pais percebam que nem todos os jovens se desenvolvem no mesmo ritmo.

Jovens infantilizados 

Há algum indício de que poderíamos estar criando uma nação de jovens que relutam em deixar a adolescência para trás? Programas de televisão estão repletos desses estereótipos de jovens adultos que não querem assumir as responsabilidades da vida adulta. 

E há aqueles personagens que querem romper com seus pais ou responsáveis autoritários e super protetores e virar adultos, mas têm dificuldade em cortar os laços familiares. 

Frank Furedi, professor de sociologia na Universidade de Kent, diz que temos jovens infantilizados e que isso levou a um número crescente de homens e mulheres que aos vinte e poucos anos ainda vivem em casa. 

"Questões econômicas são normalmente usadas como desculpa, mas na verdade não é esse o real motivo", disse Furedi. "Há uma perda da aspiração por independência e um medo de viver sozinho. Na época em que fui para a faculdade, ser visto com os pais significava uma morte social, enquanto que hoje é uma norma." 

"Então temos hoje esse tipo de mudança cultural que significa, basicamente, que a adolescência se estende em seus vinte e tantos anos, e que isso pode prejudicar você de várias maneiras. Eu acho que o que a psicologia faz é, inadvertidamente, reforçar esse tipo de passividade, impotência e imaturidade e normaliza essa situação. " 

Furedi diz que essa cultura infantilizada intensificou a sensação de "dependência passiva" que pode dificultar as relações adultas. "Há um crescente número de adultos que estão assistindo filmes infantis no cinema," disse Furedi. "Se analisarmos os canais infantis de televisão nos Estados Unidos, veremos que 25% da audiência são adultos, e não crianças." 

Ele não concorda que o mundo moderno seja mais difícil para os jovens viverem.

"Eu não acho que o mundo tenha se tornado mais cruel, mas a questão é que temos protegido demais as nossas crianças desde cedo. Quando elas têm 11, 12, 13 anos, não as deixamos sair sozinhos. Quando elas têm 14, 15 anos, nos metemos tanto na vida deles que os privamos de uma experiência de vida real. Tratamos estudantes de universidade da mesma maneira que tratávamos alunos de escola, e é esse tipo de efeito cumulativo de infantilização que eu acho ser o responsável por isso." 

Rito tradicional 

Mas será que os pais devem realmente incentivar mais os adolescentes a traçar o seu próprio caminho no mundo? 

A série de televisão Girls — em que a personagem central Hannah Horvath luta com a vida adulta — capturou o zeitgeist (espírito da época). Os pais de Hannah não a ajudam mais financeiramente e ela tem que morar sozinha e cometer seus próprios erros. 

Um dos ritos tradicionais de passagem para a vida adulta foi sempre sair de casa, mas a apresentadora de televisão, especialista em propriedades, Sarah Beeny, diz que os adolescentes não precisam sair da casa dos pais a fim de aprender a ser independentes, e que há enormes vantagens quando gerações diferentes vivem juntas. 

"A solução para não se ter jovens inúteis de 25, 30 anos de idade vivendo com os pais não é colocá-los para fora da casa, e sim fazê-los lavar sua própria roupa, cuidar de seus gastos, pagar as contas, assumir a responsabilidade pela limpeza de seu quarto e não deixar que eles se acostumem é ter tudo feito para eles", diz Beeny. 

Ela diz que os pais devem desempenhar um papel no ensino de responsabilidades-chaves, e que os jovens, em troca, podem manter seus pais atualizados. 

"Eu sei que soa como um sonho utópico, mas é provavelmente o que deveríamos estar buscando. Para mim, esse é o Santo Graal... nem todo mundo que vive sozinho, em sua própria casa, está pensando: ótimo, eu estou pagando uma hipoteca." 

Com tamanha atividade hormonal, e com a adolescência durando mais tempo do que se pensava, como saberemos quando realmente atingimos a idade adulta? 

Para Antrobus, é quando a independência "parece algo que você deseja muito e pode adquirir". Mas para aqueles adolescentes eternos entre nós, talvez a definição de Beeny seja mais apropriada. "Para mim, a vida adulta é perceber que não há adultos e que todo mundo está sendo levado pela vida", diz Beeny.
BBC News, 29-09-2013.

São Jerônimo: tudo pelo livro sagrado

Padre Geovane Saraiva*
No dia 30 encerramos o mês de setembro, recordando São Jerônimo, grande especialista da Palavra de Deus, a qual a carregou nos lábios, meditando-a dia e noite (cf. Js 1, 8). Nasceu na Dalmácia, hoje Iugoslávia, no ano de 342 e morreu em Belém em 420. Ele consagrou sua vida ao estudo da Sagrada Escritura e é considerado maior e melhor exegeta de todos os tempos. A Igreja Católica o reconheceu como homem eleito por Deus para explicar e fazer compreender de melhor modo a Palavra de Deus. Daí tê-lo por doutor e especialista do livro sagrado, de um modo imbatível e inigualável.

Foi para o Ocidente e retirou-se com alguns amigos, formando uma pequena comunidade religiosa, tendo como principal objetivo estudar a Sagrada Escritura e obras de teologia. Depois de experimentar o rigor da vida monacal, esteve por vários anos no deserto da Síria, no rigor do jejum e da penitência, que quase o leva ao limite da morte. Na dinâmica de sempre melhor aprofundar o livro revelado e inspirado, transfere-se para Roma, onde encontrou os melhores especialistas.

São Jerônimo estudou hebraico e aperfeiçoou seus conhecimentos do grego para poder compreender melhor a Palavra de Deus nas línguas originais. Em Roma recebeu a missão do Papa Dâmaso para escrever a Bíblia em latim, graças ao conhecimento que tinha do grego e do hebraico. O Papa queria uma tradução mais fiel, em tudo aos textos originais, traduzida e apresentada em latim, que pudesse servir de texto uniforme na liturgia da Igreja, evitando uma vez por toda desencontros,  embaraço e confusões.

São Jerônimo, servo bom e fiel, iniciou seu trabalho em Roma e continuou por toda a sua vida. É importante salientar que passou seus últimos 35 anos de vida na oração, na penitência, fazendo de tudo, mas de tudo mesmo pela difusão da Sagrada Escritura. A tradução da Bíblia em latim chamou-se “vulgata”, sendo usada largamente nos séculos posteriores, tornando-se o livro sagrado oficial até o Concílio de Trento. É conhecido não apenas pela tradução da Bíblia, mas também por sua obra em defesa do Dogma da virgindade perpétua da Virgem Maria, opondo-se ao herege Helvídio, o qual espalhara folhetos, tentando negar a virgindade da Virgem Imaculada.

Como é importante a célebre frase de São Jerônimo, sempre citada na caminhada do povo de Deus, sem nunca ser preterida: “Ignorar as Escrituras é ignorar o próprio Cristo”. Eis um amor e um zelo tão profundo pela Palavra de Deus; alimentando-se dela de tal modo que a tomou como sua fonte de vida.

“Toda a escritura é inspirada por Deus e útil, a fim de ensinar, corrigir e educar na justiça” (2Tm 3, 16). À luz da Palavra de Deus, nossa fé seja a resposta generosa de um Deus que quer se manifestar e se revelar, oferecendo-nos a condição de ler e perceber, nos sinais de dores, angústias e sofrimentos pelos quais passa a humanidade, conscientes de que a hora é de Deus.


*Padre da Arquidiocese de Fortaleza, escritor, membro da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza, da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE) e Vice-Presidente da Previdência Sacerdotal - Pároco de Santo Afonso - geovanesaraiva@gmail.com

Autor dos livros:
“O peregrino da Paz” e “Nascido Para as Coisas Maiores” (centenário de Dom Helder Câmara);
“A Ternura de um Pastor” - 2ª Edição (homenagem ao Cardeal Lorscheider);
“A Esperança Tem Nome” (espiritualidade e compromisso);
"Dom Helder: sonhos e utopias" (o pastor dos empobrecidos);
"25 Anos sobre Águas Sagradas (coletânea de artigos e fotos).

Destaque do dia nos principais jornais, 3/09/2013

Cabral critica ocupação do plenário da Câmara do Rio por professores

Professores da rede municipal de ensino protestam em frente à Câmera Municipal após a retirada forçada de manifestantes do Palácio Pedro Ernesto
Por Cristina Indio do Brasil

Rio de Janeiro - O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, disse que a melhor forma de defender as reivindicações é por meio de diálogo, ao falar sobre a ocupação do plenário do Palácio Pedro Ernesto, sede da Câmara Municipal do Rio, por professores. Cabral não quis comentar se houve excessos da Polícia Militar durante a desocupação, na noite de sábado (28), conforme informaram professores. Ele disse que não viu as imagens e por isso não pode julgar o comportamento dos policiais.

´Ter a participação da população é muito importante´, avaliou. ´A democracia estabelece ritos e deve ser sempre, em tese, dessa maneira. Como ex-parlamentar e chefe do Poder Legislativo, [acho que] a participação da população deve ser sempre dentro do que se chama direitos e deveres, mas, se houve enfrentamento ou não, eu não sei. Não vi as imagens. Em tese, ocupar também o plenário do Poder Legislativo não é a melhor forma de se dialogar e de se acompanhar qualquer tipo de debate´, disse.

O governador deu as declarações durante a inauguração das obras da Cidade da Polícia, no Jacarezinho, zona norte do Rio, que teve um investimento de R$ 170 milhões. No local funcionará um complexo destinado à investigação policial, equipado para receber 13 delegacias especializadas, além da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), de cinco órgãos da Chefia de Polícia e de uma prefeitura para cuidar da área administrativa. Segundo o governo do estado, a polícia do Rio ganhará agilidade na troca de informações entre as delegacias especializadas.
Agência Brasil

Como muda a Igreja nos tempos de internet?

"A possível separação entre conexão e encontro, entre partilha e relação implica o fato de que, hoje, as relações podem ser mantidas sem renunciar ao isolamento egoísta."
Por Antonio Spadaro 

A internet está mudando o nosso modo de pensar e de viver. As recentes tecnologias digitais não são mais "tools", isto é, instrumentos completamente externos ao nosso corpo e à nossa mente. A rede não é um instrumento, mas sim um "ambiente" no qual nós vivemos. Talvez até mesmo algo mais, um verdadeiro "tecido conectivo" da nossa experiência da realidade.

Bento XVI escreveu na sua Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2010: "Os meios modernos de comunicação fazem parte, desde há muito tempo, dos instrumentos ordinários por meio dos quais as comunidades eclesiais se exprimem, entrando em contato com o seu próprio território e estabelecendo, muito frequentemente, formas de diálogo mais abrangentes".

É ainda mais verdade se considerarmos que a internet se tornou importante para o desenvolvimento das relações entre os pertencentes daquela que já é comumente definida como "geração Y", ou seja, a dos jovens nascidos entre os anos 1980 e 2000. A geração Y é caracterizada por uma grande familiaridade com as comunicações, as mídias e as tecnologias digitais. É a geração da chamada web 2.0, na qual as relações entre as pessoas estão no centro do sistema e da troca comunicativa, ao menos tanto quanto os conteúdos.

As "social networks" não dão expressão a um conjunto de indivíduos, mas sim a um conjunto de relações entre indivíduos. O conceito-chave não é mais a "presença" em rede, mas a "conexão": se estamos presentes mas não conectados, estamos "sozinhos". Entramos na internet para experimentar ou incrementar alguma forma de "proximidade", de cercania. É preciso, portanto, compreender bem de que modo o próprio conceito de "próximo" – tão caro à terminologia cristã e assim ligado à vizinhança espacial – evoluiu precisamente por causa da Rede. Daí certamente seguirão consequências de ordem política.

A possível separação entre conexão e encontro, entre partilha e relação implica o fato de que, hoje, as relações, paradoxalmente, podem ser mantidas sem renunciar à própria condição de isolamento egoísta. Sherry Turkle resumiu essa condição no título de um livro seu: Alone together, isto é, "Juntos, mas sozinhos". De fato, os "amigos", justamente por estarem sempre online, isto é, disponíveis ao contato ou imaginados como presente para dar uma olhada nas nossas atualizações nas social networks, estão invariavelmente presente e, portanto, justamente por isso, correm o risco de desaparecer em uma projeção da nossa imaginação. A fratura na proximidade se dá pelo fato de que a proximidade é estabelecida pela mediação tecnológica pela qual quem está "perto" de mim, isto é, próximo, é quem está "conectado" comigo.

O verdadeiro núcleo problemático da questão é o conceito de "presença" nos tempos das mídias digitais e das redes de relacionamento que desenvolvem uma forma de presença digital. O que significa estar presentes uns aos outros? O que significa estar presentes em um evento, em uma decisão? A existência digital parece se configurar com um estatuto ontológico incerto: prescinde da presença física, mas oferece uma forma, às vezes até mesmo vívida, de presença social. O conceito de participação – eclesial ou político – está estritamente ligado ao de "presença".

A existência digital, certamente, não é um simples produto da consciência, uma imagem da mente, mas também não é uma res extensa, uma realidade objetiva ordinária, até porque só existe na ocorrência da interação. As esferas existenciais envolvidas na presença em Rede, de fato, devem ser melhor investigadas no seu entrelaçamento. Abre-se diante de nós um mundo "intermediário", híbrido, cuja ontologia deve ser melhor investigada.

À luz das considerações sobre o fato de ser "próximo", como é possível, portanto, imaginar o futuro da vida de uma comunidade eclesial nos tempos da Rede? Já em 2001, Manuel Castells compreendia bem que a questão-chave para nós é a passagem da comunidade à network como forma central de interação organizativa. As comunidades, ao menos na tradição da pesquisa sociológica, eram baseadas na partilha de valores e organização social. As "networks" são constituídas através de escolhas e estratégias de atores sociais, sejam eles indivíduos, famílias ou grupos.

A Igreja nos tempos da internet poderia acabar sendo vista como uma estrutura de suporte, um "hub", uma praça, onde as pessoas podem "reagrupar-se", dar origem a grupos ou, melhor "cachos" (clusters) de conexões. Essa visão oferece uma ideia da comunidade que adota as características de uma comunidade virtual entendida como leve, sem vínculos históricos e geográficos, fluidas.

Como avaliar esse modelo? Certamente, a relacionalidade da rede funciona se as conexões (links) estão sempre ativos: se um nó ou uma ligação fosse interrompido, a informação não passaria, e a relação seria impossível. A reticularidade da videira em cujos ramos escorre uma mesma seiva, portanto, não está muito distante da imagem da Internet. A Igreja, de fato, é um corpo vivo se todas as relações em seu interior são vitais.

Ainda na Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2011, o papa notava que a web está contribuindo para o desenvolvimento de "novas e mais complexas de consciência intelectual e espiritual, de certeza compartilhada". A rede desses conhecimentos dá origem a uma forma de "inteligência conectiva".

Dom Gerhard Ludwig Müller, hoje prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, em novembro de 2012, tinha captado lucidamente o desafio, isto é, a "responsabilidade da Igreja na formação de uma cultura humana coletiva, para a qual a sociedade de hoje, com a sua rede de conexões internacionais – globais – fornece, além disso, ótimos pressupostos".

No entanto, restam em aberto muitas interrogações. A Igreja, de fato, não é simplesmente uma rede de relações imanentes, nem é concebível como um projeto enciclopédico fruto do esforço de homens de boa vontade. A Igreja sempre tem um princípio e um fundamento "externo" e não é redutível a um modelo sociológico. O pertencimento à Igreja é dado por um fundamento externo, porque é Cristo que, por meio do Espírito, une os seus fiéis intimamente a si.

A Igreja, em suma, é um "dom" e não um "produto" da comunicação. E essa perspectiva ajuda a compreender como a própria sociedade civil não é um "produto". O "pertencimento" (eclesial, civil...) não é o produto da comunicação. Os passos da iniciação cristã não podem se resolver em uma espécie de "procedimento de acesso" (login) à informações, talvez até com base em um "contrato", que permite até uma rápida desconexão (log off). O enraizamento em uma comunidade não é uma espécie de "instalação" (set up) de um programa (software) em uma máquina (hardware), que pode ser, portanto, facilmente "desinstalado" (uninstall).

Eis então o nó: a cidade de Deus e a cidade do homem são chamadas a pensar o pertencimento nos tempos da rede, que, por sua natureza, é fundamentada nos links, isto é, nas ligações horizontais. O papa Francisco afirmou que a cidadania só é plena se for lida à luz da experiência de povo que compartilha um horizonte comum que transcende o equilíbrio flutuante e provisório de interesses: "É impossível imaginar um futuro para a sociedade, sem uma vigorosa contribuição das energias morais numa democracia que permaneça fechada na pura lógica ou no mero equilíbrio de representação de interesses constituídos". E, portanto, "ser cidadão significa ser convocado para uma escolha, chamado a uma luta, a essa luta do pertencimento a uma sociedade e a um povo". Mas essa, mutatis mutandis, é uma definição válida também para aqueles que fazem parte do "povo fiel de Deus a caminho" que é a Igreja.
La Stampa, 27-09-2013.
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Mestre da dissimulação, pássaro faz outras aves criarem seus filhotes

Ninho de pássaros no santuário pássaros de Nalsarovar, Índia.
Paris (AFP) - O tecelão-parasita (Anomalospiza imberbis), uma espécie de ave pequena encontrada na África, é conhecido por ludibriar outros pássaros que acabam por criar seus filhotes, mas um novo estudo demonstrou a cara de pau deste enganador emplumado em se evadir do dever parental.

O passarinho de padrão listrado e amarelo predominante, do tamanho de um pardal, é um bicão conhecido.

Ele deposita seus ovos nos ninhos de outras aves e tenta, inclusive, combinar seus ovos, disfarçando-os para que se pareçam com o de seus hospedeiros.

Desta forma, ele tira vantagem das aves que acabam virando, involuntariamente, pais adotivos, que chocam os ovos dos tecelões-parasitas junto com os deus próprios e criam os filhotes depois que estes saem dos ovos.

Agora os cientistas testemunharam pela primeira vez a persistência das avezinhas em seu elaborado plano de ilusão.

De acordo com um estudo publicado na revista Nature Communications, a fêmea retorna para o mesmo ninho hospedeiro várias vezes para depositar quantos ovos puder, provavelmente a uma taxa de cerca de um ovo dia em dias alternados.

Ao depositar alguns ovos no mesmo ninho, o tecelão-parasita confunde os hospedeiros, tornando-os menos capazes de identificar e descartar os ovos invasores, separando-os dos seus próprios.

"O tecelão-parasita desenvolveu uma estratégia nova para desbaratar as defesas do hospedeiro e aumentar seu êxito reprodutivo", explicou o co-autor do estudo, Martin Stevens, da Universidade de Exeter.

"Eles enganam os hospedeiros e, com isto, ajudam a que mais filhotes sejam criados", acrescentou.

Os filhotes de tecelão-parasita costumam crescer mais rápido e são mais estridentes em pedir comida do que os filhotes dos hospedeiros, que acabam morrendo de fome, enquanto os intrusos recebem mais comida de seus pais traídos.

Em Zâmbia, onde o estudo foi realizado por uma equipe da Grã-Bretanha e da África do Sul, a vítima mais frequente deste enganador é a prínia-de-flancos-castanhos (´Prinia subflava´) africana, uma ave de tamanho similar, mas de cor mais escura.

O tecelão-parasita é da família Passaridae. É parente distante do cuco verdadeiro, que migra entre a África e a Europa.

A prínia costuma por de dois a quatro ovos e procria durante a estação úmida, entre fevereiro e março, na Zâmbia.

Cerca de um quinto dos ninhos de prínias é invadido por tecelões-parasitas, mas os hospedeiros às vezes descobrem os ovos invasores e os põem para fora, explicou Stevens.
AFP